terça-feira, dezembro 02, 2008

Dezembro

É dezembro. Descobri vendo crianças nas ruas, crianças dessas de pouca idade que gostam de pedir dinheiro a pai e mãe e comprar picolé, bombom, refrigerante na esquina. Crianças com ar mais leve...de férias...invadindo as ruas e não apenas os famigerados shopings com seus papais noéis de coca cola.
É dezembro. Descobri quando me dei conta de que o coração apertou pedindo pra ficar perto de quem se gosta. Pedido leve, melancólico quase...dessas soliões que gente dita do século XXI é acostumada a ter, solidão de gente moderna, que entende tudo de tecnologias, expressões novas e que impressionam, mas entendem pouco de gente.
É dezembro. Descobri quando acordei hoje olhei pro céu e vi nuvens carregadas, pesadas... Pressentindo chuvas que se alargam até abril ainda longe.
É dezembro. Descobri pelo peso do ano sobre as costas e o próximo vindo querendo ajudar e tirar esse peso e tentar me deixar leve...leve.

Descobri quando vi a árvore de natal ser montada na sala.
E nem precisei de calendário.





rigoberto lima

segunda-feira, novembro 10, 2008

Jardim das crônicas sem conteúdo

O relógio na mesa de cabeceira confessava preguiçoso que já passava, por pouco, das seis horas da manhã. A luz fraca que passava pela janela e a cortina, deixava dúvida, mas não desmentia. Era a primeira informação que ela recebia no dia. A segunda era de que ela sentia fome e precisava ir ao banheiro antes disso. Saindo do banheiro enxerga o corpo dele. Adormecido sobre a cama. Pensa nos pedidos feitos ao pé do ouvido e prontamente aceitados por ela. E o quanto ela gostava daquilo. Lia se sentia feliz. Leve. E era sábado. Logo ele acordaria e lhe daria um beijo, perguntaria sobre o café. Obedeceria o protocolo do cotidiano e sairia pro trabalho. Mas naquela hora, naquele instante, ele era só dos olhos dela. Já faziam cinco anos desde que se conheceram. E era ele. Sabia que era ele. Pelo jeito que ele sorria pra ela quando a comida que ela preparava não estava boa, pela feição de contentamento quando ele aceitava em ver o filme que ela queria no cinema, pelos bombons de chocolate amargo que ela recebia dele de vez em quando na volta do trabalho, pelo jeito que ele sempre deixava o controle da tv pra ela, pelo jeito engraçado do rosto dele quando goza, pelo jeito que ela se sente úmida pelos dedos dele...
Por tudo isso, por ser sábado e por ele ser só dela, nem ele mesmo se pertencia naqueles instantes antes do despertar.
- Acorda! - susurra ela baixo caindo por sobre ele e deixando os seios dela tocarem as costas dele - É dia lá fora e aqui dentro também.
Ele muito sonolento, acorda, se espreguiça espaçoso, olha pra ela, deixa o corpo se relaxar na cama.
- Bom dia, bem!Café tá pronto?
rigoberto lima

terça-feira, outubro 28, 2008

castanhada

Papai chegou hoje em casa com um pote na mão. Eu estava quase de saída pra uma aula chatíssima de introdução à comunicação. Curioso, fui ver. Castanha assada. Ainda na casca. "De onde é, pai?"."Dó sítio mesmo". Eram só castanhas, sim, mas quando peguei uma pra tirar a casca olhei ao meu redor e me vi com 10 anos, cercado de primos de mesma idade e correndo de um lado para o outro. Minha avó Helena estava lá também, 20 anos mais nova do que hoje, gritando pra gente não chegar perto da chapa e da fogueira. Cada primo e eu, inclusive, tínhamos um galho pequeno nas mãos. Lembrei onde estava. Nos quintais de nunca mais da infância, quando ainda existiam crianças de 10 anos. Fantásticos quintais aqueles. Uma árvore de fruta do conde sempre observando. O poleiro de pombos. Os coelhos e seus olhos vermelhos. E a castanha assando em uma fogueira sobre uma chapa de ferro. E a melhor hora, a que todos nós esperávamos por pura farra. Gercina virava a chapa e as castanhas em brasa defumada queimavam no chão e nós batendo compulsivamente pr'o fogo acalentar. Acabava. Correria de novo e esperar pra próxima assada de castanha. Na outra semana. Até que um dia esperamos e nunca mais tivemos castanha. Já não tinhamos mais nossos quintais. Magníficos quintais.
Voltei.
Peguei os livros e fui pra universidade.
Só precisou de uma castanha.








rigoberto lima

quarta-feira, outubro 22, 2008

Sempre teremos Paris.

"O nazista pergunta a Rick::
- Qual a sua nacionalidade?
- Sou um bêbado!
- (risos) Isso faz de vc um cidadão do mundo. Soube que veio de Paris.
- Isso não é segredo para ninguem eu creio.
- Você é um dos que não suportaria nos ver em sua Paris?
- Não é tão minha assim.
- E Londres?
- Quando chegar lá me avise.
- E Nova York?
- General, há lugares em NY que eu não aconselharia uma invasão."


. . .


"Rick aponta a arma para o chefe de polícia corrupto e diz:
- Você vai ligar para o aeroporto e arranjar dois salvo-condutos para Lisboa agora. E não esqueça que estou apontando essa arma para seu coração.
- Escolha errada. Esse é o meu ponto menos vulnerável, suponho - responde irônico o chefe de polícia."


. . .



Tipicamente americano? Sem dúvida. Bem escrito? Deveras. Moderno? Gritantemente. Lançamento Hollywoodiano blockbuster para o próximo verão? Não. Casablanca, 1942, Bogart e Bergman.








rigoberto lima

terça-feira, outubro 14, 2008

G.P.S.

internet banda larga de máxima velocidade. telefones que se confundem com máquinas fotográficas, tv's e video-games e sempre ao alcance da mão. tudo tem que ser plugado. baterias de recarregar e pilhas não podem faltar. skipes, msn's, bluetooths. orkuts contando os gostos e vontades. telefone descarregado sempre gerando uma certa angústia e em algumas pessoas quase o desespero do fútil. a demência da quantidade tomando espaço cada vez mais do dia. as pessoas querem ser achadas. só isso.
e às vezes lidas.





rigoberto lima

segunda-feira, outubro 06, 2008

retalho

domingo passado por volta das 9 da noite, uma melancolia me visitou sem ter sido convidada e se depender de mim não vai ser convidada tão cedo. Saudade de tanta coisa. Assistir filme de mão dada, comer doce de leite, relacionamento estável, uns sentimentos de estabilidade feminina me tomaram por demais, e acima de tudo saudade de meu filhote. Saiu uma música, folk, quase country. Cara da Mallu Magalhães. Eu preferia dizer "cara do cash", mas não posso. Um negro escutador de samba fazendo country? afirmo-lhes que sim. Pra quem visita essas "páginas" vai com certeza saber de onde vem os versos dessa letra. Por isso ela se chama retalhos. Sou todo feito de saudade e retalhos.



retalhos

não sei andar
nesses espaços que você deixou
deixou sem me avisar

não sei qual gravata colocar
talvez a que não exista
portanto não me aperta e nem me tira o ar

dia desses saí pra passear
lembrei de nós brincando de ter vida
mas tudo fica bem
enquanto você for minha cor preferida

o que tenho pra te dizer
se diz baixinho
se ouve calado
com um sorriso desses
que saem assim meio de lado

não vejo motivos pra ficar
nesse inverno sem cobertor
por mais frio que faça
nem mais uma linha sobre dor


rigoberto lima

terça-feira, setembro 23, 2008

north pole

dias difíceis esses
não sei se choro ou sorrio
é pouca perna pra tanto vazio.






música pra hoje: drão - gilberto gil




rigoberto lima

segunda-feira, setembro 22, 2008

quem dera!

não sei andar nesses espaços que você deixou.
adiando sempre os planos por conta dos fazeres
nesse andar apressado
esquece sempre que a vida acontece o tempo todo.

no que me cabe admito sempre
que tenho lacunas que você não sublinhou.
adormeço...acordo...transbordo e ainda sim
não sei andar nesses espaços que você deixou.



música pra hoje: die, die my darling - misfits




rigoberto lima

quinta-feira, setembro 18, 2008

conta!

comecei contando um
passei pro dois
aí, você sumiu.
atordoado, desconfiei que o três vinha depois.






rigoberto lima

segunda-feira, setembro 15, 2008

E.C.T.

tudo que sobrou
coube na caixa do correio
palavras bonitinhas de adeus
bilhete com começo e fim.
eu que entenda o meio.



rigoberto lima

terça-feira, setembro 02, 2008

caninos e felinos

Se eu parar pra lembrar, chutaria 6 meses. É o tempo que Gyselle se apossou dos cantos da casa. Gyselle, a gata. Gata de felina, viu. Foi salva do lixão da padaria aqui da esquina depois de ter sido caridosamente jogada lá por alguma alma sem matéria divina suficiente pra ter dó, pena ou compaixão, amém! Os miados duraram um dia, o suficiente pra ela ser a felizarda de ganhar casa, comida e sofá pra arranhar.
Sempre gostei de cachorros. Desde que me entendo por gente minha mãe sempre criou cachorro. Mas depois que a felina chegou. Um carinho estranho me tomou por ela. Nada de chamego, rabo balançando, orelha em pé pedindo carinho. Quando quer, ela vem. E basta. Ela teima em dormir no meu quarto de uns dias pra cá. Era pra ter terminado "a insustentável leveza do ser" já a alguns dias(vários, aliás),deito, leio algumas páginas mas gosto de olhar pra ela, ali: Auto-suficiente, deitada, sem pedir carinho à toa e aos ventos. É um animal de estimação com hábitos mais modernos, sofisticados. Ao menos, pra mim são, sempre acostumado a cachorro e às línguas de fora.
Alguma coisa mudou em mim. Esfriei o coração?Coração ,esse, sempre tão orgulhoso dos feitos e palavras bonitas que enalteceram tantas donzelas(e outras nem tanto) em tantos anos. Será que me deixei identificar pelos hábitos felinos? Cansei de ir atrás? Só aceito quem estiver ao alcançe da mão e isso se a vontade apetecer? Comerei 17 vezes por dia e só beberei água na tigela?
Gyselle vai me dizer qualquer hora dessas.




rigoberto lima

sábado, agosto 30, 2008

a crônica da hora do rush

Acordei bem "seis e meia da tarde" hoje, sabe aquela hora do dia que parece que é mais difícil ser feliz?não é dia e nem é noite, vc dá um boa noite e pensa: "será que é mesmo?".as novelas das seis sempre são péssimas.(seis e meia da tarde de um domingo então!credo!sempre procuro alguem pra ficar perto nessa hora, mas isso é pra outra crônica). voltando.pois foi desse jeito que acordei.apesar de ser 9 da manhã. O café da manhã tinha gosto de seis e meia.o silêncio da casa enquanto preparava o café, dáva pra ouvir um sussurro do vento me cochichando que eram seis e meia. Triste, culpei todo mundo por isso, sentado na cozinha com um copo de achocolatado na mão, pão e presunto light sadia na outra e com planos cruéis de deixar o mundo sem minha presença por uma semana.eles vão notar que estou triste, “aconteceu alguma com o rigoberto", "vamo lá...ver o que ele tem?". eles iriam notar. sei disso. meu plano cruel de negligenciar minha presença ao mundo por uma semana durou dez minutos. o tempo de terminar o café, lavar a xícara, e ir pra sala ligar o computador. planos infalíveis sempre tem falhas graves. é batata!o poder das seis e meia em mim era muito forte.
abri a primeira página meio que no automático:orkut.com. abri e vi vc sorrindo e dizendo que o que eu escrevo te faz bem. no meu relógio de dentro já não eram seis e meia.
8 horas da noite, talvez. escuro ainda...longe de amanhecer!mas ao menos eu gosto do william bonner e da fátima bernardes!




por rigobero lima

quinta-feira, junho 19, 2008

sabão neutro

Creio que 6 da manhã. Acordei. Tomei banho. Me vesti. Mamãe amarrou o cadarço do meu tênis. Tomei café. Arrumei a mochila e mamãe me entregou a merendeira. E lá se vai minha pessoa, pequena pessoa, para mais um dia na alfabetização no já bem distante ano de 1987, educandário tia lígia, que ficava ali atrás da Igreja da Nossa Senhora de Fátima, mais conhecida como a igreja do padre tony. Passei por lá dia desses e não reconheci onde ficava o educandário...me bateu uma tristeza dessas que cada um sente pra si (e qual tristeza não é assim, mesmo?). Enfim, era um dia ordianriamente comum.
Chego na escola, as coisas de sempre, fessora, caderno, caligrafia e eu olhando pra Denise a manhã toda (sempre tive dificuldades com mulheres...sempre foram conflitos platônicos...desde os 6 anos de idade...tenho 27 e só mudou o tamanho do sutiã).
Mas no final da aula, o material todo pronto e a professora pede pra gente levar sabão neutro no outro dia. Entrei em pânico. Contido, mas pânico ainda. Não tinha entendido o qual bendita palavra vinha depois de sabão. Neutro?Qual criança com 6 anos de idade é obrigada a saber o que diabos significa alguma coisa neutra? simples? pra mim não. Era só levantar o braço e perguntar: - fessora, sabão o que? pra mim não. fiquei na torcida pra ela repetir. e ela repetiu mais 2 vezes. E eu continuei mais duas vezes em entender.
Outro dia. Não levei o tal sabão alguma coisa, simplesmente por não levantar a mão e perguntar. Como se isso fosse causar uma cólera tão violenta na professora a ponto d'eu não entrar nunca mais no recinto de troca de informações, saber e cultura (e com um parquinho super bacana) que era propriedade de tia lígia. Fiquei com medo de falar. Fiquei com medo de que minha voz tomasse corpo naquela sala. Não fiz o trabalho e levei uma advertência na agenda: "motivo: não trouxe material suficiente para a realização do trabalho". Custava a tia Regina ter colocado que era sabão neutro? Ao menos eu saberia o que era. Como eu me lembro? Não sei. mas depois de alguns anos li em algum livro a expressão: "iniciativa minada". O sabão neutro me veio à cabeça na mesma hora. Por causa do sabão neutro me vi de repente como músico que não sabendo falar o que quer apenas canta. Por ser mais fácil. Mais rápido. Mais simples. sem barreira. Não preciso olhar nos olhos de ninguém. O sabão neutro fez isso comigo. Abriu caminhos e me deixou menos covarde ou mais cínico, não sei. Hoje quando vou na pia da cozinha e olho pra ele parado, imóvel, colorido, ali na minha frente, só eu sabendo o que ele fez por mim...sempre penso:

- você, hein...







rigoberto lima

terça-feira, junho 03, 2008

se meus joelhos...

Andei pouco esses dias por conta de uma artrose no joelho esquerdo. Uma semana antes, quando ainda andava sem parecer que tinha assadura, vi raiva nas pessoas, só pode ter sido coincidência. No supermercado uma mulher esbravejando "ele vai ver...acabo com ele". No orkut pessoas me chamando de "músico de bandinha de moda", pessoas que não conheço e que nunca tomaram uma cerveja comigo e não sabem que não sou das piores pessoas (melhor que o Bush e o sergio malandro eu devo ser, ao menos). No banco, dois senhores brigando por um lugar na fila, um deles com o filho do lado. Em um pub o garçom destratando quem atendia, "ligue pra seu banco, então", isso as três da manhã. Quem era atendido com raiva também. Eu brigando feio com minha mãe. Isso em uma semana. Fiquei com medo de sair. Santa-Artrose.
rigoberto lima

quarta-feira, maio 07, 2008

saravá!

na orla das tuas costas
sou sem querer pescador
tenho notícias fartas de algas malemolentes
que vou te contar em sopro
enfiado nos teus ouvidos
trago ondas quebradiças e preguiçosas
que te espumam
saravá, mulher minha!
hoje eu volto pra dormir em casa
aconchega meu lado da cama
quero amores...aceito calores.






rigoberto lima...acordei meio jorge amado hoje!

quinta-feira, abril 03, 2008

Gabriel e a cada esquina - parte II

Amaliah é daquelas mulheres das quais vale a pena um homem tentar convencer. De que ele é bom pra ela. E pro resto da vida. Não é presa ao tempo dela. Transcende. É atemporal. Não importa idade. Quando foi pra ser filha mimada com seus doces e choros ela o foi. Quando foi pra dar seu primeiro beijo na esquina da casa de sua tia-avó Lenilda, no Ramiro, garoto de poucas palavras, sem muito jeito, ela o deu. Quando foi pra sentir o primeiro crescer de carnes inferiores de um garoto, na festa da casa da prima, no corredor mal iluminado apenas pelas luzes da festinha entre a cozinha e a sala, ela o sentiu. Se assustou um pouco. Mas apertou as coxas por sobre o volume. Gostou. Não, não...tomou gosto. Quando foi pra se apaixonar, se perdeu naquele espaço entre a vida de acordar, comer,dormir e as horas que se passam no não-espaço de gostar, onde pouco ou nada importa...vozes, cores, fomes. Quando foi pra ser rejeitada o foi com todo garbo e agonia que apenas rainhas do cotidiano o sabem fazer. Chorou, praguejou, jurou mil vezes esquecer, mas como toda mulher deixada não soube cumprir suas próprias e simples promessas.
Quando foi apenas deitar por deitar deu a esses homens noites de garfo, faca e boca cheia. Elameou essas camas como poucas putas já fizeram. Quando foi pra ser esposa o foi respeitando com todos os medos a rotina de café, almoço e jantar que o cargo exige. E foi mãe. Daquelas de útero cheio. De leite farto. Foi dessas que amou desses amores de entranha, de fêmea. Quando perdeu, foi de perder tudo. Filho, marido e geometria de vida. Dois anos de entrega a qualquer sensação corpórea que a fizesse esquecer da vida que teve. Negação simples. Caso fácil pra qualquer especialista. Assim, sem segredos. Dois anos até aquela noite. ela tinha decidido que seria ali. Se perdeu entre pílulas, comprimidos, doses. Era questão de tempo, pouco tempo, até fazer efeito. Mas depois de ingerir a química que iria fazer seu corpo perder os sinais vitais, naquele fim de festa, onde pouco importavam pudores, três mulheres entrelaçam as mãos entre si ao lado dela, uma já está com a blusa acima dos seios bem redondos, amaliah avista na pouca iluminação da festa, ele: Gabriel. Tem os cabelos enrolados, pele morena, rosto quadrado, agudo, o olhar só não é mais forte por conta de tanto álcool correndo pelo sangue, e para amaliah, ele tem asas. Sim, ela vê asas. Um anjo barroco. Não! Ela não quer mais ir embora. Quer ficar ali, perto dele. Ela sente que ele tem calor, e depois de tantos frios, de tantos invernos, tantos cobertores sem calor, ela não tem mais forças pra ir atrás de amor. Mas ele tem. Amaliah se levanta, trôpega, e vai em direção à ele. Que já tem outra mulher em sua companhia. Linda. Corpo, milimetricamente, perfeito. Os dois não trocam palavras. Sentem. E saem os três dali pra algum quarto vagabundo na cidade. Apenas vão. Amaliah perde os sinais vitais depois de 50 minutos saída da festa. Vê seu corpo sobre a cama. Chora, grita. Mas o casal que faz sexo ao lado de seu corpo não se afeta. "mas ainda estou aqui...não fui pra lugar nenhum". Amaliah, vê o Gabriel dormindo. Sabe que ele vai ajudá-la a voltar pro seu corpo. Como? não sabe.
rigoberto lima

terça-feira, abril 01, 2008

gabriel e a cada esquina - parte I

Já era sete da manhã. Suspeitou. A dor de cabeça não o permitiu passar mais do que dois segundos nessa indagação. Passava pela janela uma luz fraca, de um dia nublado, que, depois de passar pela janela, ficava mais fraca ainda quando tentava passar por uma cortina que coisa de vinte anos artrás deveria ser branca.
No quarto ,um ar respirado várias vezes. Criado-mudo. Paredes elegantemente desbotadas e com infiltração. O ar condicionado lembrava um motor de carro antigo. Dos ruins. Na cama, ele, gabriel, ao centro. Dos lados, duas mulheres. A da direita com o corpo completamente nú sem nada por cobrir, deitada de costas. A da esquerda com a metade de baixo do corpo coberto por lençois amassados, os seios bem delineados, do tamanho de dois cajús de bom porte, mamilos rosados e grandes, um pouco desproporcional ao tamanho dos seios, mas sóbrios, descansavam junto com a dona. Uma morena de rosto forte, grande, agudo. Os cabelos caiam por sobre o rosto, o que acabava escondendo mais aquela beleza de traços fortes embriagava.
Gabriel, com a cabeça perdida entre a dor, o ar condicionado, a nudez, a mulher nua, a mulher semi-nua e os seios da semi-nua toca um mamilo da semi-nua com a ponta do dedo indicador. A mão toda. Vira corpo a ponto de poder colocar as duas mãos. A boca. Ela acorda. Tira do rosto cabelos que atrapalhavam a visão. Gabriel, levanta o rosto, e sem saber como emitir algum som se vê diante da vulnerabilidade que só as mulheres com vírgulas nos olhos sabem deixar um homem. Ela, observando Gabriel com a boca em um dos seus seios e a mão em outro, sorri.
- Desjejum?!
Ele, silêncio. Sem saber como tinha ido parar ali.
- Pois continua!- disse ela com um olhar desses que seguram pela mão.
Ele a deixa descoberta e joga o lençol no chão. Ela já molhada por entre pernas. Ele já rijo por ante pernas. Não se tem conversas de amor, juras eternas. Como? Ele nem a conhece. Não é amor, é penetração. Mas é macio, é quente, é devagar. Ele, paternalmente por cima e com a luz fraca, percebe que os olhos delas são verdes, o nariz agudo, a pele clara e os cabelos quase azuis de tão negros. - Porra!o que eu fiz noite passada?, pensa ele. A penetração termina depois de 4 minutos e 26 segundos. Ela gozou duas vezes, na última ejaculou. Ele, obviamente, uma. Suados. Ela o abraça com os braços e com as pernas e no ouvido dele, bem baixinho: - Bom dia pra você também!
Lá fora são na verdade nove e meia da manhã. O sol se esconde. E a outra mulher, a da direita, já é na verdade um corpo. Morto. Com óbito exato as 7 e 33 da manhã. Mas eles ainda não sabem.
continua...
rigoberto lima

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

sem nem saber


"me faz bem sem nem saber
me salva o dia seja qual dia for
antes do sol nascer
e ainda depois dele se pôr...

..vem! me diz o que fazer
vem! segura minha mão
vem e me diz o que escrever
pra terminar nosso refrão."






pedaço de música para josé. devidamente ensaiada pela gramo.
mês que vem meu pedaço de vida faz um ano.







rigoberto lima (sim, eu sei o que é ênclise, próclise e mesóclise e todas as regras que envolvem isso tudo)

sábado, janeiro 19, 2008

brisa

em meu corpo carrego um vento vindo de ti.
uma brisa sem querer, sem pomar, sem porvir.
um chão que piso até quando piso em outro chão.
um sim que escapa por entre meus dedos úmidos
e antes de tocar meus pés já é não.

carrego sobre minhas pernas
um corpo.
torto.
pessoas ponto não me interessam.
tem certezas demais...
tem muito garbo da vida que vão ter
e cortinas desbotadas que deixaram para trás.
prefiro pessoas reticências.
são pessoas travesseiro.
carregam nos olhos o veludo lilás das paciências.
olham nos olhos, pegam nas mãos, beijam macio,
adoram os silêncios, abraçam por dentro

deixo essas bagagens de vida
pelo saguão...me cortam as costas tantas roupas e caras
é hora do não-ter.






rigoberto lima

quinta-feira, janeiro 03, 2008

tanta coisa

queria tanta coisa nesse dia
uma foto desbotada colorida toda sua
um beijo longo em gozo e calmaria
uma janela com vista lá pra rua
faça-me o favor...
querer assim dá agonia
janelas areadas e embaçadas de vapor.

imensamente fraco
e ofegante
meu peito sem ar pra se completar em si
não consegue mais cantar tuas canções
em qualquer afinação...seja em bemol ou em mi.
meu peito sem ar para se sustentar
tenta, puxar e puxar e puxar
pernas que já tropeçam eu teus jardins e no meu pomar
que eu puxe um não pra você
que ontem, que hoje, que amanhã
mas qual dia for apenas seja
eu aprenda a dizer não
como no dia dentro da tua boca
não te senti nada além de gosto quente de cerveja.

um dia aprendo
depois de tantas poesias, prosas e crônicas
a esquecer e nunca mais cantar tuas músicas.







rigoberto lima ( se preparando para um conto classificação 18 anos no próximo post)