terça-feira, outubro 30, 2007

amor instinto

Gosto de ficar olhando pra José. Quando ele dorme comigo em uma rede, a cabeça repousando, calmíssima, sobre o meu peito. Fico contorcendo a cabeça pra poder olhar pra ele. Quero ficar ali. Dormir junto e acordar junto, porque sei que ele acordando ou precisando eu vou estar lá, protegendo de qualquer ameaça externa (sim! pais acham isso!) que venha a atrapalhar o sono da cria.
Mas também sei que tenho que levantar e ir fazer a mamadeira dele. Pra quando acordar já ter o que comer. Ir atrás do alimento (alimentar primeiro...cantar depois).
Proteger o ninho de descanso. Se preocupar sempre com o alimento. Confiar apenas em você pra cuidar daquele ser pequenino. Amor? Sim. Mas antes disso: instinto. Talvez seja daí que venha a superproteção de tantos pais a tantos filhos, do instinto misturado ao amor. O instinto que qualquer animal tenha com sua cria de dar o que se precisa (e hoje eu sinto isso absurdamente enraizado) se supervalorize com esse amor que nós, ocidentais, idealizamos de sempre querer dar o que se queira.
Amor eu sinto por José. Deslavadamente não medido. Mas instinto vem antes. Não que eu tenha me tornado mais um neanderthal do que um sapiens (como se isso fosse elogio!). Mas animais selvagens se esgueiram e vigiam uma floresta querendo saber qual outro animal se aproxima da árvore se tornando ameaça, onde pode existir um outro ser mais baixo na cadeia alimentar pra servir de alimento. Hoje, quando meu filho chora, largo o que estou fazendo e corro pra perto dele tentando sentir cheiros, fumaças, barulhos diferentes que o fizeram chorar. Eu sempre me certifico onde possa ter alimento mais perto: supermercados, sim! Campainha tocando significa saber quem se aproxima da casa com mais cuidado. Todo santo dia tem inspeção do corpo(que mancha vermelha é essa?)
Primeiro vem tentar dominar o que cerca um filho pra depois, sim, poder segurá-lo no colo e dar e se desfrutar com o sorriso dele.
Rezo pra saber discernir onde fala meu instinto pra dar o que ele precisa e onde entra meu amor/instinto pra dar o que ele quer...esse último, sim...perigoso.
rigoberto lima (homem das cavernas)

quarta-feira, outubro 24, 2007

calores

as vezes estranhamos o cheiro das nossas roupas
é um cheiro de guardado.
por várias vezes na vida
entrelaçamos a vista para nossas pernas
quando o aroma do nosso andar
já não cabe mais ao que era.
uma tontura de não saber mais onde ficam
as rédeas do nosso sim
se de onde
se de fora
se de dentro
se de que
se pra que
se sem que
se por onde
se todavia
se nada consta

tudo isso por conta das massas de ar quente
da incerteza.
desidratam qualquer convicção
sem o menor respeito ou ética médica
e sem direito a prognóstico paleativo.

mas qual calor evapora tudo isso?
qual o motivo de cada gota amarga de incerteza?
digo, agora:
- não sei!

elas, as certezas, se evaporam
e se reagrupam lá em cima
em forma de nuvens frondosas
cheias de si e de suas carnes nada táteis

elas, as certezas, são facilmente evaporadas
por essas baforadas diárias e contínuas de falta de fé.

incrédulos...aproximem-se
trago, além da fumaça dos carros,
a cura pra tanta insegurança seca.

tomem nota:
"são sempre e sempre:
os sorrisos deslavados e sem culpa;
as crianças e suas palavras e respostas;
os amigos e, simplesmente só, sem mais adjetivos;
os abraços desmistificados;
os gostos, os paladares da tua bebida favorita, da boca
que mais lhe convir e aceitar;
o sexo que cair (e despir) como uma luva;"

depois de tudo, asseguro
toda gota de certeza tua
cai lá de cima e te molha
precipitada em forma de chuva.






rigoberto lima (metido a fazer poemas sem rima e bem maiores agora...provavelmente suicídio comercial...é batata!)



quinta-feira, outubro 18, 2007

...

quando estou longe
quero ficar perto
quando estou perto
quero ficar dentro
quando estou dentro
quero ficar mudo
quando estou mudo
quero dizer tudo.





...

segunda-feira, outubro 15, 2007

a kingdom for a horse

é desse mal estupefato que saio
de um amor caricato
que bem lá no fundo
de tão fundo de mim
não sei se caio
ou se mato
com rapidez e presteza
teus olhos assim, bem em mim,
me inundando de dúvidas
e uma única certeza:

-já conheço essas esquinas
seus senhores, seus escravos,
seus reinos, suas sinas.








rigoberto lima (quase poeta e de cara nova)

terça-feira, outubro 09, 2007

macumba's delivery

Foi segunda-feira (sempre elas!). Minha mãe, como toda boa avó, reivindicou meu filho nos seus braços. Eu, como bom filho, entreguei.
- Vou dar uma caminhada com ele aqui por perto.
- Tá bom, mãe...mas nada de ir longe com ele...olha as alergias.
E ela realmente não foi muito longe. Voltou rápido. Mas foi o suficiente? Pra quê? Pra me dar uma manhã de desespero. Defrontei-me com um mal jamais visto (por mim, claro!), maliciosamente sutil e desesperantemente claustrofóbico: o quebrante.
Sempre ouvi mamãe dizer que eu tive quando bebê, minha avó sempre contava histórias estranhíssimas com nomes mais estranhos ainda sobre isso.
Os dois voltam do passeio. Pego José nos braços. E minha mãe parece ter se transformado numa mãe de santo: - o menino escangotô...vô pegar folha de arruda pra levar pra rezadêra! Não sabia se ficava apavorado pela minha mãe ter falado em um dialeto africano distante ou pelo José estar todo caído, quase desmaiado, nos meus braços. Fiquei pelos dois.
Mamãe some por 5 minutos. E eu já tinha colocado José na cama com e um tylenol bebê engatilhado pra ser usado pela primeira vez por mim. Mamãe tinha ido procurar uma rezadeira aqui do bairro (ainda moro no que pode realmente se chamar de bairro onde pessoas ainda sentam nas portas das casas, vizinhos se conhecem pelo nome e as fofocas tem um certo nível de intimidade, o que pra quem faz, soa apenas como comentário sobre a vida de fulano...um micro-cosmo de um Brasil colônia). Enfim, voltando.
Pra meu espanto a cerimônia é delivery. Ela chega...olha pra criança...cochicha alguma coisa que ninguem entende...bate umas folhas pelo corpo do menino (folhas essas que murcham rapidinho). E pronto!
- Tem que fazer amanhã e depois de novo.
É delivery, eficiente, rápido, prático e com consultas extras. Depois dizem que aqui é subdesenvolvido. Uma ambulância do SAMU seriam 2 horas pra chegar. A globalização chegou no terreiro.
Eu não acredito em bruxas...mas que elas existem...ah! isso existem. Como diriam nossos amigos hermanos que são loucos pelo Maradona.
E o José?
Em cinco minutos estava rindo e saltitando no meu colo. Amanhã tem delivery.
Rigoberto lima (um cético em relação a medicina moderna)

quinta-feira, outubro 04, 2007

hoje é dia!

hoje é dia, sabia?
que o sabiá mentiu
disse que cantaria
a pobre andorinha ele iludiu
cantando a missa e a romaria
com cara de bom moço
o sabiá disse que sabia
que sabia que você sabe
que qualquer dia desses,que
inclusive, hoje é dia.



rigoberto lima ( pateta em horário comercial, devidamente solúvel em horário integral,não cobra honorários por ser um sonhador)