terça-feira, outubro 09, 2007

macumba's delivery

Foi segunda-feira (sempre elas!). Minha mãe, como toda boa avó, reivindicou meu filho nos seus braços. Eu, como bom filho, entreguei.
- Vou dar uma caminhada com ele aqui por perto.
- Tá bom, mãe...mas nada de ir longe com ele...olha as alergias.
E ela realmente não foi muito longe. Voltou rápido. Mas foi o suficiente? Pra quê? Pra me dar uma manhã de desespero. Defrontei-me com um mal jamais visto (por mim, claro!), maliciosamente sutil e desesperantemente claustrofóbico: o quebrante.
Sempre ouvi mamãe dizer que eu tive quando bebê, minha avó sempre contava histórias estranhíssimas com nomes mais estranhos ainda sobre isso.
Os dois voltam do passeio. Pego José nos braços. E minha mãe parece ter se transformado numa mãe de santo: - o menino escangotô...vô pegar folha de arruda pra levar pra rezadêra! Não sabia se ficava apavorado pela minha mãe ter falado em um dialeto africano distante ou pelo José estar todo caído, quase desmaiado, nos meus braços. Fiquei pelos dois.
Mamãe some por 5 minutos. E eu já tinha colocado José na cama com e um tylenol bebê engatilhado pra ser usado pela primeira vez por mim. Mamãe tinha ido procurar uma rezadeira aqui do bairro (ainda moro no que pode realmente se chamar de bairro onde pessoas ainda sentam nas portas das casas, vizinhos se conhecem pelo nome e as fofocas tem um certo nível de intimidade, o que pra quem faz, soa apenas como comentário sobre a vida de fulano...um micro-cosmo de um Brasil colônia). Enfim, voltando.
Pra meu espanto a cerimônia é delivery. Ela chega...olha pra criança...cochicha alguma coisa que ninguem entende...bate umas folhas pelo corpo do menino (folhas essas que murcham rapidinho). E pronto!
- Tem que fazer amanhã e depois de novo.
É delivery, eficiente, rápido, prático e com consultas extras. Depois dizem que aqui é subdesenvolvido. Uma ambulância do SAMU seriam 2 horas pra chegar. A globalização chegou no terreiro.
Eu não acredito em bruxas...mas que elas existem...ah! isso existem. Como diriam nossos amigos hermanos que são loucos pelo Maradona.
E o José?
Em cinco minutos estava rindo e saltitando no meu colo. Amanhã tem delivery.
Rigoberto lima (um cético em relação a medicina moderna)