Gosto de ficar olhando pra José. Quando ele dorme comigo em uma rede, a cabeça repousando, calmíssima, sobre o meu peito. Fico contorcendo a cabeça pra poder olhar pra ele. Quero ficar ali. Dormir junto e acordar junto, porque sei que ele acordando ou precisando eu vou estar lá, protegendo de qualquer ameaça externa (sim! pais acham isso!) que venha a atrapalhar o sono da cria.
Mas também sei que tenho que levantar e ir fazer a mamadeira dele. Pra quando acordar já ter o que comer. Ir atrás do alimento (alimentar primeiro...cantar depois).
Proteger o ninho de descanso. Se preocupar sempre com o alimento. Confiar apenas em você pra cuidar daquele ser pequenino. Amor? Sim. Mas antes disso: instinto. Talvez seja daí que venha a superproteção de tantos pais a tantos filhos, do instinto misturado ao amor. O instinto que qualquer animal tenha com sua cria de dar o que se precisa (e hoje eu sinto isso absurdamente enraizado) se supervalorize com esse amor que nós, ocidentais, idealizamos de sempre querer dar o que se queira.
Amor eu sinto por José. Deslavadamente não medido. Mas instinto vem antes. Não que eu tenha me tornado mais um neanderthal do que um sapiens (como se isso fosse elogio!). Mas animais selvagens se esgueiram e vigiam uma floresta querendo saber qual outro animal se aproxima da árvore se tornando ameaça, onde pode existir um outro ser mais baixo na cadeia alimentar pra servir de alimento. Hoje, quando meu filho chora, largo o que estou fazendo e corro pra perto dele tentando sentir cheiros, fumaças, barulhos diferentes que o fizeram chorar. Eu sempre me certifico onde possa ter alimento mais perto: supermercados, sim! Campainha tocando significa saber quem se aproxima da casa com mais cuidado. Todo santo dia tem inspeção do corpo(que mancha vermelha é essa?)
Primeiro vem tentar dominar o que cerca um filho pra depois, sim, poder segurá-lo no colo e dar e se desfrutar com o sorriso dele.
Rezo pra saber discernir onde fala meu instinto pra dar o que ele precisa e onde entra meu amor/instinto pra dar o que ele quer...esse último, sim...perigoso.
rigoberto lima (homem das cavernas)
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