Creio que 6 da manhã. Acordei. Tomei banho. Me vesti. Mamãe amarrou o cadarço do meu tênis. Tomei café. Arrumei a mochila e mamãe me entregou a merendeira. E lá se vai minha pessoa, pequena pessoa, para mais um dia na alfabetização no já bem distante ano de 1987, educandário tia lígia, que ficava ali atrás da Igreja da Nossa Senhora de Fátima, mais conhecida como a igreja do padre tony. Passei por lá dia desses e não reconheci onde ficava o educandário...me bateu uma tristeza dessas que cada um sente pra si (e qual tristeza não é assim, mesmo?). Enfim, era um dia ordianriamente comum.
Chego na escola, as coisas de sempre, fessora, caderno, caligrafia e eu olhando pra Denise a manhã toda (sempre tive dificuldades com mulheres...sempre foram conflitos platônicos...desde os 6 anos de idade...tenho 27 e só mudou o tamanho do sutiã).
Mas no final da aula, o material todo pronto e a professora pede pra gente levar sabão neutro no outro dia. Entrei em pânico. Contido, mas pânico ainda. Não tinha entendido o qual bendita palavra vinha depois de sabão. Neutro?Qual criança com 6 anos de idade é obrigada a saber o que diabos significa alguma coisa neutra? simples? pra mim não. Era só levantar o braço e perguntar: - fessora, sabão o que? pra mim não. fiquei na torcida pra ela repetir. e ela repetiu mais 2 vezes. E eu continuei mais duas vezes em entender.
Outro dia. Não levei o tal sabão alguma coisa, simplesmente por não levantar a mão e perguntar. Como se isso fosse causar uma cólera tão violenta na professora a ponto d'eu não entrar nunca mais no recinto de troca de informações, saber e cultura (e com um parquinho super bacana) que era propriedade de tia lígia. Fiquei com medo de falar. Fiquei com medo de que minha voz tomasse corpo naquela sala. Não fiz o trabalho e levei uma advertência na agenda: "motivo: não trouxe material suficiente para a realização do trabalho". Custava a tia Regina ter colocado que era sabão neutro? Ao menos eu saberia o que era. Como eu me lembro? Não sei. mas depois de alguns anos li em algum livro a expressão: "iniciativa minada". O sabão neutro me veio à cabeça na mesma hora. Por causa do sabão neutro me vi de repente como músico que não sabendo falar o que quer apenas canta. Por ser mais fácil. Mais rápido. Mais simples. sem barreira. Não preciso olhar nos olhos de ninguém. O sabão neutro fez isso comigo. Abriu caminhos e me deixou menos covarde ou mais cínico, não sei. Hoje quando vou na pia da cozinha e olho pra ele parado, imóvel, colorido, ali na minha frente, só eu sabendo o que ele fez por mim...sempre penso:
- você, hein...
rigoberto lima
quinta-feira, junho 19, 2008
sabão neutro
Postado por rigoberto.lima às 12:29 PM
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