terça-feira, outubro 28, 2008

castanhada

Papai chegou hoje em casa com um pote na mão. Eu estava quase de saída pra uma aula chatíssima de introdução à comunicação. Curioso, fui ver. Castanha assada. Ainda na casca. "De onde é, pai?"."Dó sítio mesmo". Eram só castanhas, sim, mas quando peguei uma pra tirar a casca olhei ao meu redor e me vi com 10 anos, cercado de primos de mesma idade e correndo de um lado para o outro. Minha avó Helena estava lá também, 20 anos mais nova do que hoje, gritando pra gente não chegar perto da chapa e da fogueira. Cada primo e eu, inclusive, tínhamos um galho pequeno nas mãos. Lembrei onde estava. Nos quintais de nunca mais da infância, quando ainda existiam crianças de 10 anos. Fantásticos quintais aqueles. Uma árvore de fruta do conde sempre observando. O poleiro de pombos. Os coelhos e seus olhos vermelhos. E a castanha assando em uma fogueira sobre uma chapa de ferro. E a melhor hora, a que todos nós esperávamos por pura farra. Gercina virava a chapa e as castanhas em brasa defumada queimavam no chão e nós batendo compulsivamente pr'o fogo acalentar. Acabava. Correria de novo e esperar pra próxima assada de castanha. Na outra semana. Até que um dia esperamos e nunca mais tivemos castanha. Já não tinhamos mais nossos quintais. Magníficos quintais.
Voltei.
Peguei os livros e fui pra universidade.
Só precisou de uma castanha.








rigoberto lima