terça-feira, outubro 28, 2008

castanhada

Papai chegou hoje em casa com um pote na mão. Eu estava quase de saída pra uma aula chatíssima de introdução à comunicação. Curioso, fui ver. Castanha assada. Ainda na casca. "De onde é, pai?"."Dó sítio mesmo". Eram só castanhas, sim, mas quando peguei uma pra tirar a casca olhei ao meu redor e me vi com 10 anos, cercado de primos de mesma idade e correndo de um lado para o outro. Minha avó Helena estava lá também, 20 anos mais nova do que hoje, gritando pra gente não chegar perto da chapa e da fogueira. Cada primo e eu, inclusive, tínhamos um galho pequeno nas mãos. Lembrei onde estava. Nos quintais de nunca mais da infância, quando ainda existiam crianças de 10 anos. Fantásticos quintais aqueles. Uma árvore de fruta do conde sempre observando. O poleiro de pombos. Os coelhos e seus olhos vermelhos. E a castanha assando em uma fogueira sobre uma chapa de ferro. E a melhor hora, a que todos nós esperávamos por pura farra. Gercina virava a chapa e as castanhas em brasa defumada queimavam no chão e nós batendo compulsivamente pr'o fogo acalentar. Acabava. Correria de novo e esperar pra próxima assada de castanha. Na outra semana. Até que um dia esperamos e nunca mais tivemos castanha. Já não tinhamos mais nossos quintais. Magníficos quintais.
Voltei.
Peguei os livros e fui pra universidade.
Só precisou de uma castanha.








rigoberto lima

quarta-feira, outubro 22, 2008

Sempre teremos Paris.

"O nazista pergunta a Rick::
- Qual a sua nacionalidade?
- Sou um bêbado!
- (risos) Isso faz de vc um cidadão do mundo. Soube que veio de Paris.
- Isso não é segredo para ninguem eu creio.
- Você é um dos que não suportaria nos ver em sua Paris?
- Não é tão minha assim.
- E Londres?
- Quando chegar lá me avise.
- E Nova York?
- General, há lugares em NY que eu não aconselharia uma invasão."


. . .


"Rick aponta a arma para o chefe de polícia corrupto e diz:
- Você vai ligar para o aeroporto e arranjar dois salvo-condutos para Lisboa agora. E não esqueça que estou apontando essa arma para seu coração.
- Escolha errada. Esse é o meu ponto menos vulnerável, suponho - responde irônico o chefe de polícia."


. . .



Tipicamente americano? Sem dúvida. Bem escrito? Deveras. Moderno? Gritantemente. Lançamento Hollywoodiano blockbuster para o próximo verão? Não. Casablanca, 1942, Bogart e Bergman.








rigoberto lima

terça-feira, outubro 14, 2008

G.P.S.

internet banda larga de máxima velocidade. telefones que se confundem com máquinas fotográficas, tv's e video-games e sempre ao alcance da mão. tudo tem que ser plugado. baterias de recarregar e pilhas não podem faltar. skipes, msn's, bluetooths. orkuts contando os gostos e vontades. telefone descarregado sempre gerando uma certa angústia e em algumas pessoas quase o desespero do fútil. a demência da quantidade tomando espaço cada vez mais do dia. as pessoas querem ser achadas. só isso.
e às vezes lidas.





rigoberto lima

segunda-feira, outubro 06, 2008

retalho

domingo passado por volta das 9 da noite, uma melancolia me visitou sem ter sido convidada e se depender de mim não vai ser convidada tão cedo. Saudade de tanta coisa. Assistir filme de mão dada, comer doce de leite, relacionamento estável, uns sentimentos de estabilidade feminina me tomaram por demais, e acima de tudo saudade de meu filhote. Saiu uma música, folk, quase country. Cara da Mallu Magalhães. Eu preferia dizer "cara do cash", mas não posso. Um negro escutador de samba fazendo country? afirmo-lhes que sim. Pra quem visita essas "páginas" vai com certeza saber de onde vem os versos dessa letra. Por isso ela se chama retalhos. Sou todo feito de saudade e retalhos.



retalhos

não sei andar
nesses espaços que você deixou
deixou sem me avisar

não sei qual gravata colocar
talvez a que não exista
portanto não me aperta e nem me tira o ar

dia desses saí pra passear
lembrei de nós brincando de ter vida
mas tudo fica bem
enquanto você for minha cor preferida

o que tenho pra te dizer
se diz baixinho
se ouve calado
com um sorriso desses
que saem assim meio de lado

não vejo motivos pra ficar
nesse inverno sem cobertor
por mais frio que faça
nem mais uma linha sobre dor


rigoberto lima