quinta-feira, abril 03, 2008

Gabriel e a cada esquina - parte II

Amaliah é daquelas mulheres das quais vale a pena um homem tentar convencer. De que ele é bom pra ela. E pro resto da vida. Não é presa ao tempo dela. Transcende. É atemporal. Não importa idade. Quando foi pra ser filha mimada com seus doces e choros ela o foi. Quando foi pra dar seu primeiro beijo na esquina da casa de sua tia-avó Lenilda, no Ramiro, garoto de poucas palavras, sem muito jeito, ela o deu. Quando foi pra sentir o primeiro crescer de carnes inferiores de um garoto, na festa da casa da prima, no corredor mal iluminado apenas pelas luzes da festinha entre a cozinha e a sala, ela o sentiu. Se assustou um pouco. Mas apertou as coxas por sobre o volume. Gostou. Não, não...tomou gosto. Quando foi pra se apaixonar, se perdeu naquele espaço entre a vida de acordar, comer,dormir e as horas que se passam no não-espaço de gostar, onde pouco ou nada importa...vozes, cores, fomes. Quando foi pra ser rejeitada o foi com todo garbo e agonia que apenas rainhas do cotidiano o sabem fazer. Chorou, praguejou, jurou mil vezes esquecer, mas como toda mulher deixada não soube cumprir suas próprias e simples promessas.
Quando foi apenas deitar por deitar deu a esses homens noites de garfo, faca e boca cheia. Elameou essas camas como poucas putas já fizeram. Quando foi pra ser esposa o foi respeitando com todos os medos a rotina de café, almoço e jantar que o cargo exige. E foi mãe. Daquelas de útero cheio. De leite farto. Foi dessas que amou desses amores de entranha, de fêmea. Quando perdeu, foi de perder tudo. Filho, marido e geometria de vida. Dois anos de entrega a qualquer sensação corpórea que a fizesse esquecer da vida que teve. Negação simples. Caso fácil pra qualquer especialista. Assim, sem segredos. Dois anos até aquela noite. ela tinha decidido que seria ali. Se perdeu entre pílulas, comprimidos, doses. Era questão de tempo, pouco tempo, até fazer efeito. Mas depois de ingerir a química que iria fazer seu corpo perder os sinais vitais, naquele fim de festa, onde pouco importavam pudores, três mulheres entrelaçam as mãos entre si ao lado dela, uma já está com a blusa acima dos seios bem redondos, amaliah avista na pouca iluminação da festa, ele: Gabriel. Tem os cabelos enrolados, pele morena, rosto quadrado, agudo, o olhar só não é mais forte por conta de tanto álcool correndo pelo sangue, e para amaliah, ele tem asas. Sim, ela vê asas. Um anjo barroco. Não! Ela não quer mais ir embora. Quer ficar ali, perto dele. Ela sente que ele tem calor, e depois de tantos frios, de tantos invernos, tantos cobertores sem calor, ela não tem mais forças pra ir atrás de amor. Mas ele tem. Amaliah se levanta, trôpega, e vai em direção à ele. Que já tem outra mulher em sua companhia. Linda. Corpo, milimetricamente, perfeito. Os dois não trocam palavras. Sentem. E saem os três dali pra algum quarto vagabundo na cidade. Apenas vão. Amaliah perde os sinais vitais depois de 50 minutos saída da festa. Vê seu corpo sobre a cama. Chora, grita. Mas o casal que faz sexo ao lado de seu corpo não se afeta. "mas ainda estou aqui...não fui pra lugar nenhum". Amaliah, vê o Gabriel dormindo. Sabe que ele vai ajudá-la a voltar pro seu corpo. Como? não sabe.
rigoberto lima

terça-feira, abril 01, 2008

gabriel e a cada esquina - parte I

Já era sete da manhã. Suspeitou. A dor de cabeça não o permitiu passar mais do que dois segundos nessa indagação. Passava pela janela uma luz fraca, de um dia nublado, que, depois de passar pela janela, ficava mais fraca ainda quando tentava passar por uma cortina que coisa de vinte anos artrás deveria ser branca.
No quarto ,um ar respirado várias vezes. Criado-mudo. Paredes elegantemente desbotadas e com infiltração. O ar condicionado lembrava um motor de carro antigo. Dos ruins. Na cama, ele, gabriel, ao centro. Dos lados, duas mulheres. A da direita com o corpo completamente nú sem nada por cobrir, deitada de costas. A da esquerda com a metade de baixo do corpo coberto por lençois amassados, os seios bem delineados, do tamanho de dois cajús de bom porte, mamilos rosados e grandes, um pouco desproporcional ao tamanho dos seios, mas sóbrios, descansavam junto com a dona. Uma morena de rosto forte, grande, agudo. Os cabelos caiam por sobre o rosto, o que acabava escondendo mais aquela beleza de traços fortes embriagava.
Gabriel, com a cabeça perdida entre a dor, o ar condicionado, a nudez, a mulher nua, a mulher semi-nua e os seios da semi-nua toca um mamilo da semi-nua com a ponta do dedo indicador. A mão toda. Vira corpo a ponto de poder colocar as duas mãos. A boca. Ela acorda. Tira do rosto cabelos que atrapalhavam a visão. Gabriel, levanta o rosto, e sem saber como emitir algum som se vê diante da vulnerabilidade que só as mulheres com vírgulas nos olhos sabem deixar um homem. Ela, observando Gabriel com a boca em um dos seus seios e a mão em outro, sorri.
- Desjejum?!
Ele, silêncio. Sem saber como tinha ido parar ali.
- Pois continua!- disse ela com um olhar desses que seguram pela mão.
Ele a deixa descoberta e joga o lençol no chão. Ela já molhada por entre pernas. Ele já rijo por ante pernas. Não se tem conversas de amor, juras eternas. Como? Ele nem a conhece. Não é amor, é penetração. Mas é macio, é quente, é devagar. Ele, paternalmente por cima e com a luz fraca, percebe que os olhos delas são verdes, o nariz agudo, a pele clara e os cabelos quase azuis de tão negros. - Porra!o que eu fiz noite passada?, pensa ele. A penetração termina depois de 4 minutos e 26 segundos. Ela gozou duas vezes, na última ejaculou. Ele, obviamente, uma. Suados. Ela o abraça com os braços e com as pernas e no ouvido dele, bem baixinho: - Bom dia pra você também!
Lá fora são na verdade nove e meia da manhã. O sol se esconde. E a outra mulher, a da direita, já é na verdade um corpo. Morto. Com óbito exato as 7 e 33 da manhã. Mas eles ainda não sabem.
continua...
rigoberto lima