quarta-feira, setembro 19, 2007

domingo

ele: - te achei...por essas mãos.
ela: - conversa besta é essa? Pega em cima da cama minha blusa...vou passar um café pra gente.
ele: - te achei ,sim...na marra...te peguei na marra...você não táva nem aí pra mim. Passa não muito forte, por favor.
ela: (vestindo a blusa) - conversa é essa? Sempre te notei.
ele: - Não do jeito que eu queria. Tive que ser escancarado.
ela: (saindo do quarto) - Claro! Eu lá ia atrás de você.
ele: Te vi por detrás daquele vidro...não senti nada...você só precisou entrar na sala. Tive certeza.
ela: - De que ia me amar?
ele: - De que você ia me desesperar. Vou comprar pão. A gente pode ir dar uma volta com o cachorro depois. Tá cedinho...é domingo. Sabia que as pessoas se suicidam mais aos domingos? Me contaram um dia.
ela: - Deve ser a programação da televisão que não ajuda (grita ela da cozinha).

Ele deita. Olha pro relógio. São 7 e 34 da manhã. Eles tinham feito amor, transado e trepado (tudo em seu tempo e vez) a noite, por várias vezes visitaram-se do seu lado da cama. E estavam com aquela leveza que os amantes bem amados tem ao levantar, com aquele olhar de desdém, quase superior, para os outros passantes.

Ela entra correndo no quarto pula na cama, e sussurra soprado:
- Olhei pra você por aquele vidro...você estava de costas...e já sabia que era você, sem nem entrar na sala. Bobo!

E sai.
Ele, devidamente espalhado pela cama e com os olhos fechados, sorri.
O cheiro do café toma a casa. O cachorro reclama lá fora.








rigoberto lima