segunda-feira, julho 30, 2007

nêgo

5 e meia da tarde. Pátio com algumas árvores. Um condomínio. Vários carros estacionados. Apesar da localização nos trópicos e da época do ano(final de julho), corre uma brisa que com pouquíssimo esforço pode-se dizer que é agradável. Caminha um homem com seu filho no colo.
A criança repousa sobre o homem, seu pai, com as pernas encolhidas sobre o peito dele, como na posição fetal. De longe, pra quem vê, seria só um pedacinho de pano enrolado no colo do pai, se não fossem os braços, pequenos, gordos, jogados, um sobre o ombro do homem e o outro velando, sem se preocupar muito com o que se passa, sobre o peito do pai. Esse que apóia com uma das mãos as costas da criança e outra segura-a naquela posição que tanto gosta(devaneia ele). A cabeça vela sobre o ombro, mas os olhos extremamente vivos e procurando e sempre procurando.
O homem em paz. E ele crê que a criança também esteja.
O homem sou eu. A criança é meu filho, josé.
Andando com ele, ainda acordado, um apartamento deixa vazar baixinho roberto carlos, logo depois da fase "iê, iê, iê". "Pelas curvas da estrada de Santos" era a música.
- Nêgo...isso é Roberto Carlos. Ele não tem uma perna, sempre foi despolitizado, quer inventar moda da censura de novo, não fala palavrão, tem que passar pela porta 3 vezes antes de entrar ou sair...mas apesar disso tudo ele é legal.
E continuava andando naquele infinito de espaço que deveria ter seus 55 m2. Uma calçada alta. E ele olha pra uma formiga gigantesca.
- Nêgo...isso é um formiga. E eu não tenho muito o que dizer sobre elas não. Pra te dizer a verdade...nada pra dizer.
Ele responde alguma coisa que a gente entende mais com o coração do que com os ouvidos. São só 4 meses de convívio com uma língua cheia de fonemas, derivações, sotaques e afins.
Começo a cantar Ben Harper e alguma coisa dos saltimbancos. Ele dorme. E eu entro pra tirar ele do sereno.
rigoberto lima (contista frustrado)