quarta-feira, novembro 04, 2009

Pés de certeza

Me dei conta hoje de um fato estranho da minha vida.
Um traço tão meu, tão enraizado na minha carne
Que não conseguia enxergar com olhos absurdamente abertos.

Fazendo uma comparação melodramática demais (admito!)
Me comparo a um bicho.
Ferido.
Desses que não fez promessas de domesticação a dono algum.
Nunca conheceu dono algum.
Que palavras, carinhos e pet-shops dizem pouco ou nada.
Pensamento lógico e racionalidade não fazem sentido.
E a única coisa que me faz revidar é me sentir acossado,
Subtraído dos meus quereres e vontades...
É quando eu me levanto e revido.
É só nessa hora. Na hora das ofensas mal colocadas
Que desrespeito as convenções
E digo baixinho com dentes cerrados e olhos agudos,
- “Hoje não”.

Mil palavrões vergonhosos saem da minha cabeça
Enquanto meus pés antes desolados,
Frios e feridos batem em marcha sobre terra molhada
De chuva nova...
Pés cheios de certeza e de si.

Tenho o vermelho raivoso nos olhos
E a boca cheia de tumulto.
Na hora do apontar de dedos
É que os meus se fecham
E formam uma massa, densa...
Um punho fechado... Dois punhos fechados...
Levanto a cabeça e por entre dentes lhe digo:
”- Por hoje, digo não as delicadezas, perco a noção das gentilezas...
Por você
Que se aproveitou das minhas horas de repouso ferido,
Das horas de braços abaixados e cansados...
É por você que eu digo não... Hoje não!”










rigoberto.lima