Micro-ensaio sobre minhas um milhão de paixões
(um milhão setecentos e cinqüenta mil até o fechamento da redação)
Ah, como eu as faria felizes! Disso eu sei... As faria felizes e inteiras como elas devem ser. Eu daria certo com um milhão de mulheres... Dessas que já me apaixonei. E foram várias... Um milhão as que me lembro. Eu completaria cada uma, sei disso, tenho certeza, tenho que ter. Começa sempre assim: a conheço e imagino desvairadamente como seria acordar do lado dela, dividir uma casa com ela, ir ao supermercado com ela, dividir os suores noturnos, dividir os sexos molhados, dividir as brigas e todos esses afazeres que fazem os casais serem casais. Os dias, as tardes e as noites. Nada de Romeu e Julieta que nunca foram um casal e nem podem servir de parâmetro para relacionamento nenhum, são um belo quadro em uma moldura, mas nunca dividiram uma casa, pagaram contas ou tiveram filhos e p’ra falar a verdade nem lembro se fizeram sexo ( Shakespeare que me perdoe).
E eu as imagino gostando de mim. Mas dificilmente gostam, admito que faço pouco para isso. É estranho. Faço da minha vida algo distante até de mim mesmo. E por vezes percebo que tento não ser atrativo, me vejo querendo não ser visto, passar despercebido. E consigo. Conheço os poetas, conheço os dizeres, as frases certas, o que essas um milhão querem absurdamente ouvir e fazer, serem amadas com seus todos, suas dúvidas, seus inúmeros defeitos, seus corpos, seus cabelos, seus sapatos, suas bolsas, seus batons, seus pescoços. Mas o receio ácido do não me faz não fazer. Existe algo entre as vontades e os fazeres que me impede.
Ah, como eu as faria felizes! Um milhão e meio as que me lembro. Termina sempre assim: as vejo, não faço, apaixono, não faço e ainda continuo apaixonado, sufoco cada gota de vontade de atenção, de sexo, de suposição de sexo até se tornar bagaço de laranja. No final, o que sobrar sou eu. Mas tendo a certeza que eu daria certo com cada uma e cada uma iria me amar como nunca amou a outro qualquer que fosse (meu mundo perfeito platônico às vezes me faz rir... como agora). Ah, além de um desvairado último apaixonado por todas as minhas duas milhões de paixões ocultas, na minha ultima contagem, sou um mentiroso compulsivo.
Micro-ensaio descritivo sobre sexo a três
(se você tem pudores exagerados ou é um purista literário que acha soft-porns literários um atentado a sua língua e gosto é melhor parar aqui e ir atrás de um parnasiano, pois aqui o que é comum vocês acharão que é devasso...e talvez seja mesmo)
Traçarei um quadro frio sobre o sexo a três. Manterei a distância certa de um narrador e criador de mundos, micro-mundos na verdade. E ainda me acho um mentiroso compulsivo. Esse resume-se a três pessoas, um quarto e muita saliva. Admito sem vergonha alguma: não existem intenções nobres e puramente singelas nesse breve texto que você lerá até o fim que sei. Se chegou até aqui vai chegar até o final. Não há nobreza. Existe apenas a vontade de descrever sexo, sobre cenas absurdamente brutas e lindas. Existirão alguns de vocês que acharão isso impróprio e machista. Mas já disse, não existe nobreza, boas intenções, engajamento político ou quaisquer forças motrizes de grande valia que façam esse texto estar sendo escrito. Não existe substância...apenas vontades. Você lerá sobre coisas comuns, belas e vulgares. E somente.
Não há como dizer onde o ato sexual em si começa. Ele termina onde todos sabem, ou presume-se que sabemos, mas o começo é difícil de definir. No beijo? Nos beijos? No enrijecer de sexo? No molho do sexo? No toque? Nos mamilos duros? No primeiro chupar (pensei em escrever sugar... ridículo!) de genitália? Na primeira estocada masculina em vulvas vulneráveis e absurdamente molhadas? Sinceramente, não sei qual sua opinião, mas a minha é que começa na vontade dos olhos. E é por eles que começo.
- Vamo fazer uma coisa que todo homem gosta de ver? – pergunta a primeira.
- O que seria? – pergunta a segunda.
A primeira segura a nuca da segunda com propriedade de quem quer sempre alguma coisa e se beijam. Um beijo forte, onde de quando em vez aparece uma língua faminta pelos cantos dos lábios quentes e nervosos. Elas estão de joelhos na cama e entre elas está ele (eu disse que seria a três). Deitado, as vontades já se mostram aparentes pelo volume das calças. Todos estão vestidos ainda. Elas se soltam, e olham para o espécime masculino pedindo atenção sob elas. Elas tiram a sua camisa com a delicadeza das boas amantes: rápida e abruptamente. Duas línguas se passam por sobre ele, descendo da barriga, chegando até pouco abaixo do abdômen e sobem novamente. A partir daí ele vai ser espectador por alguns minutos. A primeira levanta o rosto e deita a segunda sobre a cama, apaga a luz, uma fresta de luz passa do banheiro para o quarto, os olhos já vão se acostumar com a escuridão. A segunda ainda reluta pra tirar a blusa. Dois puxões resolvem e logo ela já mostra os seios com mamilos claros na claridade parca do quarto. Mas a segunda quer mais. Tira a calça da segunda que já não demonstra resistência alguma. O sexo se abre para o quarto. O sexo oral feminino. E ao ver do espectador muito bem feito. Começa-se devagar, a língua e a boca delicadamente sobre o clitóris em sugadas leves e contínuas. Uma aula! Dois dedos entram sorrateiros na velocidade das chupadas na boceta. A saliva e os líquidos se misturam entre boca, língua, vulvas e vontades. O homem observa e apenas acha lindo...não queria estar em outro lugar. Mas não se contenta enquanto ouve os gemidos da segunda sendo sugada e os barulhos próprios das chupadas cada vez mais fortes da segunda é chamado a batalha. Senta suavemente na barriga da segunda de modo com que seu pau fique entre os peitos ainda intactos nessa noite. Aperta as duas contra os seios e projeta uma penetração por entre eles. A segunda simplesmente é devorada.
- quero bater uma – interrompe com um gemido leve - punheta pra você perto da – outro gemido - minha boca!
Ele obedece sem muito reclamar. Inclina um pouco o corpo o pau fica perto da boca dela e começam as nervosidades da masturbação. De quando em vez ela passa a língua sobre a cabeça do pau. A primeira ainda a sorve. Uma cena bruta e linda. Não existe substância, apenas o entendimento.
Mas ele quer sentir o gosto quente do sexo alheio. Sai de sua posição e vai até o entre pernas da primeira. E não se pode precisar como duas bocas e boceta se dividem em beijos. E o cheiro de sexo inunda o quarto. O cheiro do bom sexo. Das boas trepadas.
- quem é que ta chupando? – pergunta a primeira como se lhe faltasse o ar e não conseguindo abrir os olhos pra poder agarrar o pouco oxigênio ainda não respirado no quarto. Os dois que brigam em comum acordo pouco ou nada ligam para a pergunta.
- quem é que tá chupando, porra? – a irritação do sexo de querer mais.
- eu! – a resposta incisiva do sexo de quem quer dar mais.
- quero te deixar sem fôlego! – diz a segunda para o homem.
- como assim? – pergunta ele sabendo que vai amar a resposta.
A primeira sabe que é a vez dele e se coloca na posição de vouyer. A segunda abre mais as pernas. Ela coloca seu rosto frente aquele sexo devidamente entregue, devidamente molhado e cheio de vontades mundanas.
- vou segurar teus cabelos... Empurrar tua cabeça... Fechar as pernas... Me chupa até ficar sem ar.
Ele obedece. Fazer mais o que? Ela cumpriu bem o que disse. O apertou com toda força para seu sexo. Não se sabe precisar de se ela teve seus espasmos orgásticos... Só seu corpo contorcido foi visto nessa hora... E gemidos femininos... Sons dos mais lindos.
Ele se desvencilhou com dificuldade, pois ela apertava com muita força, suas pernas eram fortes. Ele conseguiu se sair dos meios dela. Seu rosto era vermelho... E a respiração ofegava e pedia ar.
A primeira se deita sobre a segunda. Nuas. Mãos se misturam. Seios são apertados. Ele ainda recupera o ar. Ele está na ponta da cama e elas estão de costas para ele.
- escolhe o que você quer comer. – ri sacanamente a primeira.
Ele a escolhe. A penetração é fácil... Tudo é molhado... Tudo é quente... As mãos querem ser cheias dos corpos dos outros... Ele a fode com gosto... Primeiro devagar... Acelera... Ele não quer gozar tão cedo... E vai devagar logo depois... Sentindo cada estocada... Cada enfiada... E a movimentação da penetração... a sensibilidade entre o pau e o quente da boceta... O vai e vem ritmado e sincopado... As costas dela ao largo dos olhos dele... E ela de costas sentindo lá atrás dela aquilo entrar e quase sair... A sensação de invasão consentida... Os calores do sexo lhe tomando as pernas... As duas mãos dele segurando suas carnes da cintura com firmeza... Ela querendo olhar, mas de costas apenas sentindo e consentido a invasão por trás...
Ele quer ser chupado. E pede. Não existe razão para negar. As duas o fazem. A primeira o sabe fazer com mais vontade e logo se apossa do pau. Devagar e macio. Língua e sexo se dão muito bem.
Ele penetra a segunda. Ela gosta. Olha nos olhos dele e só se ouvem coisas do tipo... Não pára... Fode mais... Mais rápido... Mais devagar... Fode, porra!...Assim... Assim!
A segunda a faz calar a boca. Arca as pernas sobre o rosto da segunda.
- chupa e cala a boca! – cenas brutas e lindas.
Não veja vulgaridade, por favor! Não pense isso. Veja vontades apenas.
Não sei dizer se os três gozaram. Mas não creio que isso importe pra você agora. E pra dizer a verdade também não se sabe em qual momento isso terminou de verdade.
Pedi para você não querer ver substâncias, nobrezas ou intenções maiores aqui. Pedi para que visse vontades. Peço para que veja coisas comuns e incrivelmente belas.
“o pervertido é a pessoa normal pega em flagrante”
(Nelson Rodrigues)
rigoberto lima